quinta-feira , 28 março 2024
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O que a queda das empresas de patinete nos ensina sobre modelos de negócios inovadores?

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Por Marília Cardoso

A Grow Mobility, empresa de aluguel de bicicletas e patinetes elétricos resultado da fusão entre a Yellow e a Grin, anunciou o encerramento de suas operações em 14 cidades brasileiras. Capitais como Belo Horizonte, Brasília, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre e Vitória, além de grandes cidades, como Guarapari e Vila Velha, no Espírito Santo, e Campinas, São Vicente, Santos e São José dos Campos, em São Paulo, não terão mais esses meios de transporte espalhados por suas ruas.

O anúncio aconteceu apenas duas semanas após a concorrente Lime declarar que deixaria de atuar na América Latina, interrompendo a operação em 12 cidades que não davam lucro. Entre as brasileiras, estão São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o site Tecnoblog, empresas como Bird, Scoot e Lyft, que não atuam no Brasil, também deixaram de operar em alguns mercados pelo mundo e demitiram funcionários.

Na Grow, a justificativa é a de um processo de reestruturação e ajuste operacional. A meta para 2020 é aperfeiçoar a oferta de seus serviços nas cidades em que atua e expandir suas operações com responsabilidade. De acordo com informações da empresa ao Mobile Time, “a eficiência econômica é um dos desafios da empresa”, que tem atuação em sete países na América Latina e chegou a 20 milhões de corridas em novembro de 2019.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, a empresa – que queria se tornar um unicórnio – sofreu nos últimos meses com falta de capital, disputas de poder, questões regulatórias e o alto custo das viagens em patinetes, de R$ 8 para cada dez minutos. Ainda segundo o jornal, havia expectativa de uma nova rodada de aportes. Em abril, a startup negociava investimentos de US$ 150 milhões liderados pelo grupo japonês SoftBank, mas a negociação não foi adiante e a Grow teria ficado com o caixa prejudicado.

O caso nos leva a refletir sobre o sucesso repentino e apoteótico de alguns modelos de negócios inovadores. Embora o movimento de startups milionárias ainda seja um feito novo, casos como o da Grow, Uber e WeWork demonstram que a farra de empresas baseadas em uma única ideia, pautada em tecnologia e financiada quase que exclusivamente por aportes financeiros, pode já estar chegando ao fim. De boas ideias o mundo está cheio. O que precisamos de verdade é de ideias que causem impacto dentro de modelos de negócios auto sustentáveis.

Já prevendo a euforia exacerbada em torno das startups, a ISO – Organização Internacional de Normalização, instituição sem fins lucrativos sediada na Suíça, vem estudando os rumos da inovação desde 2008. Após 11 anos de uma verdadeira imersão nesse universo de profundas e rápidas transformações advindas das tecnologias exponenciais, a instituição lançou uma norma de gestão da inovação, a ISO 56.002, que foi publicada no exterior em julho de 2019 e tem previsão de publicação no Brasil para março de 2020.

A norma é de diretrizes e não de requisitos, ou seja, ela aponta caminhos, mas entende que não há uma receita única para todas as empresas. Baseada em oito pilares – abordagem por processos, liderança com foco no futuro, gestão de insights, direção estratégica, resiliência e adaptabilidade, geração de valor, cultura adaptativa e gestão das incertezas – a ISO 56.002 defende que uma inovação pode ser um produto, serviço, processo, modelo, método ou a combinação de qualquer uma delas. Contudo, o conceito de inovação é caracterizado por novidade e valor. Em suma, isso significa que “idéias sem a manifestação de valor não são inovações e sim invenções”.

Olhando para os aspectos da norma, a Grow falhou ao lançar um novo modelo de negócio, disruptivo, mas com baixa capacidade de crescimento sustentado e viabilidade econômica. E, ela não é a única. Vários casos de empresas que ocuparam boa parte das capas de revistas começam a dar sinais de problemas operacionais e processuais. É preciso inovar sempre, mas levando em consideração que uma empresa de sucesso demanda um casamento perfeito entre propósito e lucro. Afinal, investidores não vão sustentar empresas ineficientes por muito tempo. Inovação nada mais é do que a criatividade emitindo nota fiscal!

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