sexta-feira , 26 abril 2024
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Por que a Shein pode prejudicar o Varejo Brasileiro?

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Recentemente, a gigante chinesa de low cost Shein foi denunciada pelo documentário “Untold: inside the Shein Machine”, que mostrou jornadas laborais de até 18 horas por um salário baixo, entre outros problemas trabalhistas. Apesar de o caso estar geograficamente longe do Brasil, a varejista de fast fashion pode impactar o mercado brasileiro.

O especialista em empreendimentos no setor têxtil Jesué Tomé recorda que a empresa foi fundada em 2008, e na época vendia apenas vestidos de casamento. O nome Shein só foi adotado de fato em 2015, mas a virada de chave foi um ano depois, quando passou a apostar em produção própria. Em 2020, ganhou força através de vídeos de criadores de conteúdo no Instagram e no Tiktok, o que conquistou principalmente a Geração Z. “Hoje, vende em mais de 150 países e é uma empresa avaliada em 30 bilhões de dólares. Há dois anos, tornou-se o maior empreendimento de moda exclusivamente on-line do mundo”, destaca.

Ele explica também que os preços incrivelmente baixos por produtos de boa qualidade são o que faz com que a empresa venha conquistando o público de maneira avassaladora, além da facilidade da entrega. Por outro lado, mesmo que os brasileiros tenham passado a comprar mais roupas pela internet durante a pandemia, ainda é uma porcentagem baixa em relação ao varejo físico, ou seja, menos de 10%.

“As pessoas estão se adaptando aos poucos a comprar on-line e, conforme esse movimento vai acontecendo, lojas de moda que não têm marcas consolidadas ficam pelo caminho, por consequência do preço não ser competitivo comparado a players como a Shein”, ressalta.

Mesmo assim, o mercado nacional está de olho no filão e a grande preocupação não é exatamente o marketing digital, mas sim os preços difíceis de concorrer, uma vez que estão associados a trabalho em larga escala e, caso confirmadas as informações do filme, questões de insalubridade.

Além disso, a mão de obra no continente asiático normalmente já é mais barata, assim como cargas tributárias e incentivos fiscais, o que dificulta ainda mais aproximar os valores de venda para uma concorrência leal. “Sabemos que essa moda é commodity e as marcas brasileiras precisam estar atentas a isso, não se deixando tornar commodity também. O que diferencia o produto de uma marca para um produto da Shein é a etiqueta, o nome e o trabalho que estão por trás da empresa que vende. Nem todo mundo quer pagar barato no produto, isso é um fato. Portanto, os negócios ainda não consolidados precisam profissionalizar seus trabalhos e fincar definitivamente a sua bandeira, para não ter que competir diretamente com players que vendem roupa e não marca”, acrescenta.

Apesar do impacto, não é de hoje que o varejo brasileiro vem sendo afetado pela expansão de grandes players. Esse movimento tem pelo menos dez anos e, nos últimos cinco, o crescimento do e-commerce chegou como aliado, mas também trazendo desafios a essas pequenas lojas. Segundo o especialista, esse histórico só consolida a ideia de que lojas físicas de moda precisam estar on-line e também se transformar em marcas – ou vão seguir perdendo espaço.

“Podemos dizer que a Shein não preencheu uma brecha no mercado brasileiro, mas ela se posicionou rapidamente nas redes sociais e acabou viralizando. Isso só se deu pelos baixíssimos preços. Com toda minha experiência, eu diria que é impossível qualquer varejista proporcionar os produtos que a Shein proporciona pelos preços que ela vende. A única forma de competir com ela é não competindo. A empresa trabalha fortemente os cinco pilares do MIAPE, que são Mercado, Identidade, Audiência, Produto e Estratégia”, conclui Jesué, reforçando ainda a importância de criar uma experiência de marca que faça com que o consumidor deseje aquilo que você oferece, independentemente do preço.

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